Olá, estudante!
Vamos iniciar a disciplina abordando os conceitos necessários para que você possa realizar a
atividade através das situações-problema mais à frente.
Introdução
As análises clínicas correspondem à base do profissional biomédico, pois mesmo que você, após formado(a), siga outra área de atuação, necessitará de
conceitos básicos das análises clínicas para exercê-la. Portanto, é importante se aprofundar para que consiga realizar as relações necessárias e
solucionar os casos que surgirem no seu dia a dia.
Análises Clínicas
As análises clínicas compreendem uma variedade de exames que têm como objetivo avaliar o estado de saúde de um paciente ou investigar
determinada doença.
As amostras biológicas utilizadas dependem do exame solicitado pelo médico, mas pode-se utilizar urina, sangue, saliva, fezes, esperma, biopsias,
fragmentos de tecidos, raspados de pele, pelos, líquor, líquido pleural, líquido sinovial, entre outras amostras.
Cada amostra biológica, dependendo do exame solicitado, seguirá para um setor específico dentro do laboratório, podendo ser bioquímica,
hematologia, imunologia, uroanálise, microbiologia e parasitologia. A seguir veremos o papel de cada setor, os exames realizados e os respectivos
objetivos.
Bioquímica
Este setor compreende exames que têm por finalidade avaliar o funcionamento dos processos metabólicos do organismo. Como amostra biológica é
utilizado principalmente o soro e para determinados exames pode ser utilizado o plasma.
Glicemia e Perfil Lipídico
A dosagem de glicose plasmática é utilizada no diagnóstico e monitoramento de Diabetes Mellitus (DM) e diagnóstico de hipoglicemia. Para o
diagnóstico de DM o paciente deverá apresentar valores maiores ou iguais a 126 mg/dL em duas ocasiões: após jejum de pelo menos 8 horas ou em
qualquer momento maior; ou igual a 200 mg/dL, com sintomas de hiperglicemia. Em jejum, valores menores ou iguais a 100 mg/dL são considerados
normais e valores entre 100 e 126 mg/dL são classificados como glicose de jejum alterada.
O principal interferente da medida de glicose plasmática é a não separação do plasma das células sanguíneas (dosagem em sangue total), o que
acarreta diminuição progressiva dos seus níveis (de 3 a 5% por hora em temperatura ambiente). O uso de tubos com fluoreto de sódio previne esse
processo. Quando esses tubos não estão disponíveis, a amostra deve ser centrifugada 30 minutos após a coleta e armazenada a -4o C.
Já o perfil lipídico, segundo a V diretriz brasileira sobre lipidemias, define o perfil lipídico como o conjunto das determinações de colesterol Total (CT),
colesterol HDL, colesterol LDL e triglicérides. Vejamos a definição e interpretação de cada um destes exames:
Colesterol Total (CT): compreende todas as formas de colesterol encontradas nas lipoproteínas, sendo um lipídeo essencial na
produção de hormônios esteroides e de ácidos biliares e na constituição das membranas celulares. É sintetizado principalmente
pelo fígado, sendo que 25% advêm da dieta. Normalmente, de 60 a 80% do colesterol está esterificado, sendo de 50 a 75%
transportado pelas lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e 15 a 40% transportado pelas lipoproteínas de alta densidade (HDL).
Os níveis de colesterol são determinados pelo metabolismo lipídico, que é influenciado por fatores hereditários, dieta e função
hepática, renal, tiroidiana e demais funções endócrinas. Sua dosagem é utilizada para avaliar o risco de doença aterosclerótica, como
rastreamento para hiperlipidemias e para monitorar tratamento. Está aumentado nos seguintes distúrbios primários:
hipercolesterolemia poligênica/familiar, hiperlipidemia combinada familiar e disbetalipoproteinemia familiar.
É elevado como distúrbio secundário a hipotiroidismo, DM não controlada, síndrome nefrótica, obstrução biliar, anorexia nervosa,
carcinoma hepatocelular, porfiria intermitente aguda e síndrome de Cushing.
A sua dosagem está diminuída em distúrbios hepáticos severos, hipertireoidismo, desnutrição, queimaduras extensas,
abetalipoproteinemia, doenças familiares de Gaucher e de Tangier;
Colesterol HDL – lipoproteína de alta densidade: classe de partículas séricas que contêm lipídeos e proteínas, incluindo ésteres de
colesterol e colesterol livre, triglicérides, fosfolipídeos e apolipoproteínas A, C, E.
É usado como preditor para aterosclerose coronariana, avaliação de risco de Doença Arterial Coronariana (DAC) e para diagnóstico
de lipoproteinemias. Cerca de 20% do CT estão na forma de HDL. Valores abaixo do normal são inversamente relacionados ao risco
de DAC. É considerado fator de risco independentemente de CT e LDL. Seus valores dependem do sexo e da idade;
Colesterol LDL – lipoproteína de baixa densidade: é a maior lipoproteína de transporte de colesterol. Na sua forma oxidada, é
englobada por macrófagos, formando as células espumosas precursoras das placas ateroscleróticas.
LDL é usado para avaliar risco e decidir sobre tratamento preventivo na DAC. Tem melhor correlação com risco de aterosclerose do
que o CT. É igualmente considerado fator de risco para demência em casos de Acidente Vascular Encefálico (AVE).
É medido por ultracentrifugação e, mais recentemente, em análise de rotina após separação de anticorpos do HDL e lipoproteína de
considerável baixa densidade – do inglês Very Low Density Lipoprotein (VLDL). Pode ser estimado pela fórmula de Friedwald;
Triglicerídeos: são moléculas compostas de uma molécula de glicerol com três moléculas de ácidos graxos, que podem ser
saturados ou insaturados. Têm como função permitir ao organismo a estocagem de moléculas com longas cadeias de carbono, úteis
em processos de formação de energia em estados de jejum prolongado.
As concentrações séricas de TGC devem ser avaliadas, levando-se em consideração que os seus níveis são extremamente variáveis,
sendo que determinações separadas por 1 ou 2 dias podem resultar muito diferentes. Portanto, valores elevados devem ser
confirmados em ocasiões posteriores.
Os níveis de triglicérides não são normalmente encarados como fatores independentes de risco para DAC, sendo utilizados para o
diagnóstico de hiperlipidemias.
Existem controvérsias sobre a sua associação independente como fator de risco para DAC ou aterosclerose. Seus níveis são
inversamente relacionados aos níveis de HDL.
Função Renal
A função renal pode ser avaliada com as amostras de urina e de soro, de modo que abordaremos a dosagem de creatinina e ureia no soro.
Creatinina é o produto catabólico da fosfato-creatinina, a qual utilizada na contração muscular. Sua dosagem é utilizada para avaliar a função renal e
estimar a filtração glomerular, pois a sua excreção é realizada pelos rins, principalmente por filtração glomerular. Consiste em um marcador sensível de
função renal, sendo um exame importante na insuficiência renal.
Em geral, uma duplicação dos valores de creatinina indica perda de 50% da função renal. Valores aumentados são encontrados em diminuição da
função renal, obstrução do trato urinário, diminuição do aporte sanguíneo renal, desidratação/choque, intoxicação com metanol, doenças musculares
(rabdomiólise, gigantismo, acromegalia). Valores diminuídos ocorrem por perda de massa muscular, debilitação e gravidez.
Ureia consiste no produto da degradação dos compostos nitrogenados do metabolismo proteico sintetizado no fígado a partir da amônia e de vários
aminoácidos. A ureia é excretada fundamentalmente pelos rins e, por isso, é um bom indicador da função renal.
A elevação dos níveis de ureia é também chamada de azotemia. No entanto, a elevação dos níveis de ureia não é específica de doença renal intrínseca.
A elevação pode ocorrer pela quantidade excessiva de ureia que chega aos rins; em virtude de diminuição do fluxo sanguíneo renal, que impede a
adequada filtração glomerular; de uma doença renal intrínseca, que afeta a função glomerular ou tubular; ou de uma obstrução urinária, resultando em
um aumento da pressão retrogradamente interferindo na excreção renal.
Em algumas situações, os níveis podem estar diminuídos, como na doença hepática grave (produção insuficiente) e, algumas vezes, no final da
gestação.